Com a escolha da música Amsterdam da artista Daughter, planeámos criar uma
composição gráfica que retratasse a dualidade entre infância e vida adulta,
presente na música – assim, a infância representa vividez, felicidade e uma
altura de curiosidade e agitação; por
outro lado, a idade adulta é representada pela degradação, pela procura
de sensações e comportamentos destrutivos, e, mais uma vez, pela agitação. É
uma música que achamos ser muito visual e que nos levou a ter uma ideia
concreta do que queríamos fazer.
Quisemos mostrar esses dois lados na versão quadrada, procurando elementos
da comunicação visual que mostrassem esta separação onde, apesar de tudo, ainda
existe uma certa ligação. Decidimos que iríamos mostrar apenas duas mãos, uma
de criança e uma de adulto, as quais estariam apenas representadas por contornos,
de forma a mostrar as parecenças existentes entre uma e outra. A mão de criança
estaria a segurar um papagaio, mencionado na música (“flying kite in the
breeze”), enquanto a mão adulta estaria a segurar um cigarro (“killing our
brain cells”, “breathing flames”), que representa um comportamento destrutivo
que domina a composição – o fumo passa para o outro lado, o da infância. Todos
estes elementos foram capturados em fotografia por nós, e, após várias
tentativas e ângulos, conseguimos escolher as que melhor integravam na
composição.
Foi imperativo encontrar uma textura
de fundo que transmitisse esta ideia de dualidade, e tal foi possível graças às
fotografias tiradas a grafittis nas ruas do Porto. Depois de uma extensiva
captura de texturas, encontramos aquela que nos pareceu ideal. Através do
Photoshop, criámos a nossa composição gráfica: tornámos as imagens das mãos em silhuetas, diminuindo
o tamanho da primeira para parecer a de uma criança e conferir profundidade,
juntamos o papagaio e criámos o fumo do cigarro através de montagens.
Finalmente, fizemos várias experiências com o fundo, tornando-o mais claro.
Os elementos básicos da comunicação visual utilizados na composição
quadrada foram, então:
·
Textura – fundamental para a nossa composição. Devido ao uso de contornos
simples, foi necessário criar contraste e interesse visual através do uso de um
fundo com bastante textura.
·
Tom – a tonalidade mais escura de azul, no lado onde a vida adulta está
representada, e a mais clara, onde a infância é representada, é bastante
importante para mostrar a separação entre estes dois lados, diferentes, mas, no
fundo, com uma ligação (diferentes no tom, iguais na cor).
·
Contorno – a escolha de tornar as mãos em silhuetas pareceu-nos justificada
pela necessidade de relacionar as duas mãos, mostrando ser a mesma em idades
diferentes, e, também, pela necessidade de representar o sentimento de
despersonalização e destruição que a cantora sente.
·
Escala – este elemento foi essencial para criar a mão da criança e para
tornar o papagaio mais pequeno, de forma a transmitir o distanciamento da
infância.
·
Movimento – também quisemos incluir movimento, tanto no papagaio de brincar
que parece cair, como no fumo do cigarro, que parece estar a subir. Isto
representa a infância que “foge” e a vida adulta que domina a composição e a
própria música.
Quanto às técnicas de comunicação visual, estas foram fundamentais, como
Donis A. Dondi disse, em Sintaxe da
Linguagem Visual, “as técnicas são os agentes no processo da comunicação
visual; é através de sua energia que o caráter de uma solução visual adquire
forma.” As utilizadas foram:
·
Assimetria – decidimos colocar as mãos a surgir de lados diferentes do
quadrado (cima e baixo) para assinalar a rutura existente entre elas; também
fizemos o fumo do cigarro ocupar o lado da infância, para representar como a
vida adulta sobrepõe-se e apaga os anos de juventude.
·
Justaposição – muito importante para a compreensão da composição; existe
uma relação de comparação entre os dois lados, que quisemos transmitir; por um
lado, a criança, com mais cor, mais viva e mais alegre, por outro, o adulto,
com cores mais sombrias, um tom degradado e pesado. Através desta relação, os
dois lados complementam-se.
·
Subtileza – utilizamos esta técnica porque a própria música está repleta de
metáforas e símbolos que remetem para certas ideias; sendo assim, preferimos a
utilização de objetos que simbolizassem as duas etapas da vida sem recorrer à
obviedade. Papagaio – infância; cigarro – vida adulta.
·
Profundidade – através de sombras, criámos a ilusão de profundidade para os
elementos da composição encaixarem harmoniosamente na composição. A
profundidade também está presente na diferença de tamanhos entre as mãos.
Passando para a composição contorno circular, optamos por usar o papagaio e
os cigarros num contexto diferente, mas que transmitisse a mesma mensagem da
composição quadrangular. Decidimos dar ênfase à ideia da idade adulta dominar e
apagar a infância, o que nos levou à composição final: uma fotografia de um
cinzeiro onde, no meio de cigarros apagados e cinzas, estaria o papagaio de
brincar, partido e amarrotado como uma beata de cigarro.
Mais uma vez, fotografamos todos os elementos, fazendo várias experiências
com os ângulos da captura. Concluída esta etapa, utilizamos novamente o
Photoshop para, através de uma montagem, colocar o papagaio dentro do cinzeiro.
Desta vez, os elementos básicos da comunicação utilizados foram:
·
Escala – a mais importante para esta composição, uma vez que tornámos o
papagaio pequeno e amarrotado, do tamanho de uma beata a caber num cinzeiro,
para mostrar como a infância está presente na vida adulta, mas está como quase
apagada, é apenas uma memória desfeita.
·
Textura – a textura da cinza foi fundamental, remetendo para o estado de
desintegração e destruição que a música fala.
·
Forma – aproveitamos a forma redonda do circulo para “encaixar” na própria
forma da composição.
Por sua vez, as técnicas de comunicação utilizadas foram:
·
Ênfase – tentámos ao máximo fazer com que o papagaio se destacasse dentro
do cinzeiro, mantendo as suas cores vivas entre a cinza e o escuro, para que a
sua presença fosse impossível de não se identificar.
·
Instabilidade e Acaso – as beatas dos cigarros e a própria localização do
papagaio no cinzeiro sugerem uma desorganização e instabilidade, remetendo para
o estado de agitação e confusão da vida adulta.
·
Subtileza – mais uma vez, decidimos utilizar elementos que simbolizassem
temas maiores, voltando a repetir dois objetos presentes na composição
quadrangular.
Através deste
trabalho, penso que conseguimos captar a mensagem da música escolhida com as
nossas composições gráficas, aprendendo mais sobre a importância de todos os
elementos e técnicas de comunicação que nos rodeiam. Como disse Donis A. Dondi
“os modernos meios de comunicação devem ser muito seriamente vistos como meios
naturais de expressão artística, uma vez que apresentam e reproduzem a vida
quase como um espelho.”
Recorrendo aos
elementos de comunicação, as técnicas utilizadas permitem que o conteúdo da
mensagem seja plenamente transmitido, já que “na comunicação visual (...) o
conteúdo nunca está dissociado da forma”. Estamos rodeados de mensagens que são
transmitidas visualmente – um sinal de semáforo verde indica que podemos
avançar, o vermelho impede-nos; existem cartazes espalhados pelas ruas, entre
muitos outros exemplos. Todas estas mensagens (cujo objetivo pode ser explicar
algo, levar a uma reação emotiva, etc)
são passadas através dos elementos e técnicas de comunicação, de forma a
levar a uma determinada resposta – “Na busca de qualquer objetivo fazem-se escolhas
através das quais se pretende reforçar e intensificar as intenções expressivas,
para que se possa deter o controlo máximo das respostas” (Donis A. Dondi).
Os elementos
mais básicos como o ponto (que foca o olhar) e a linha (que pode
conferir movimento e direção) são fundamentais numa composição
gráfica, assim como o contorno e a textura (os principais na
composição feita nesta proposta). Técnicas como a simetria/assimetria, atividade/estase
e subtileza/ousadia são também parte fulcral na compreensão de uma
determinada mensagem que se pretenda transmitir.